O Comunicado do Setor Empresarial Brasileiro publicado recentemente com assinatura de 31 CEOs de empresas nacionais e multinacionais não foi apenas uma forma de cobrar uma agenda sustentável diante do descaso do (des)governo em relação à questão ambiental. Diferente de negacionistas do aquecimento global que desdenham os sucessivos recordes de sinais de devastação na Amazônia, lideranças empresariais em todo mundo reconhecem a seriedade da situação, em que temperaturas se elevando, geleiras desmoronando subitamente, florestas sendo devastadas, terras se tornando improdutivas e recursos naturais se exaurindo, provocam fortes impactos ambientais, econômicos e socias.

Ameaças climáticas e perda acelerada de biodiversidade, de acordo com o Relatório Global de Riscos 2020, do World Economic Forum, criam um cenário em que as preocupações ambientais se destacam como os principais riscos de longo prazo em termos de impacto e probabilidades. É a primeira vez que lideranças globais chegam a esta conclusão em relação às mudanças climáticas.

Ao sugerir “rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia e demais biomas brasileiros”, os CEOS signatários do documento poderiam ser confundidos com ativistas ambientais quando, na verdade, estão preocupados com o futuro das suas empresas e os riscos, inclusive o reputacional, em consequência do movimento global que tem aumentado a pressão ,sobretudo em relação a setores produtivos e cadeias de suprimento que mais emitem gases de efeito estufa ou mais impactam florestas e outros ecossistemas.

O último relatório disponível da CDP, organização sem fins lucrativos que analisa dados oferecidos pelas próprias empresas, aponta que 70% de 1.500 empresas com alto impacto sobre as florestas não forneceram dados sobre seu impacto. Dos 306 que relataram, 24% não mostram ação alguma ou apresentaram iniciativas limitadas para reduzir o desmatamento. Os números levaram à conclusão de que “a maioria das grandes corporações não está sendo transparente sobre seus impactos no desmatamento global”.

Com o mesmo objetivo, de incentivar a transparência, a Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) desenvolve divulgações voluntárias e consistentes de riscos financeiros relacionados ao clima para investidores, credores, seguradoras e outras partes interessadas. Em seu mais recente relatório, considera que apesar de algum progresso nos últimos anos, “as divulgações de hoje permanecem longe da escala que os mercados precisam para canalizar investimentos para soluções, oportunidades e modelos de negócios sustentáveis e resilientes.

Para outra instituição de referência, a Climate Action 100+, que se propõe a garantir que empresas alinhem suas estratégias de negócios aos objetivos do Acordo de Paris, entre as empresas selecionadas do setor de petróleo, por exemplo, apenas 63% divulgam dados de emissões ao CDP e apenas 25% apoiam publicamente a TCFD.

As mudanças climáticas criam um cenário com potencial de riscos, operacionais, financeiros e de reputação que impõem novos desafios corporativos. Há cada vez mais stakeholders, poderosos e articulados globalmente, com uma bandeira de luta que é compartilhada entre artistas, celebridades, cientistas, banqueiros e adolescentes. Todos cobram iniciativas concretas pela restauração do planeta. Das empresas, são esperados mais do que ações e contribuições concretas: além de resultados efetivos na redução do aquecimento global, organismos internacionais e a própria sociedade querem informação e transparência.