De acordo com o World Economic Forum (WEF), mais de 70 empresas estão prontas para utilizar métricas de Capitalismo de Stakeholders em suas divulgações financeiras e outras, que representam mais de uma centena, já se declararam comprometidas com a causa. No Brasil algumas (poucas) empresas vem tornando pública sua adesão a esta nova era de capitalismo. Contraponto ao capitalismo de acionistas, focado na maximização de lucros, as vezes a qualquer custo, e geração de valor exclusivamente para os acionistas, o capitalismo de stakeholders, incorporando os princípios de ESG, é um modelo que valoriza todas as partes interessadas de modo a gerar valor também para a sociedade e o planeta, contribuindo para a prosperidade dos parceiros, da cadeia de negócios e melhoria do meio ambiente.

O capitalismo de stakeholders tem origem no Davos Manifesto 2020. E em setembro daquele ano foram publicadas suas métricas básicas alinhadas em quatro pilares: princípios de governança, pessoas, planeta e prosperidade. Mas o assunto passou a merecer mais atenção este ano, principalmente depois de ser ponto central da  Carta aos CEOS de Larry Fink, chairman e CEO do BlackRock, que vem se tornando uma espécie de guia para os líderes executivos globais. Na opinião de Larry Fink, é por meio do capitalismo de partes interessadas eficaz que o capital é alocado de forma eficiente, as empresas alcançam lucratividade durável e o valor é criado e sustentável no longo prazo. Explicou que o conceito de capitalismo de stakeholders não tem a ver com política ou ideologia. E escreveu: “é o capitalismo impulsionado por relacionamentos mutuamente benéficos entre CEOs e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades das quais a empresa depende para prosperar”.

Pensar nos demais stakeholders além dos acionistas, não é coisa de anticapitalistas. A ideia partiu de Klaus Schwab, capitalista convicto, fundador e diretor do World Economic Forum, centro de convergência de lideranças e ativistas globais, além das maiores corporações do planeta.

Ao incentivar líderes a usarem os seus negócios para a construção de um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta, ao invés de priorizar o crescimento de margens de lucros ao gosto dos acionistas, a prática de capitalismo de stakeholders atrai os céticos e oponentes.

Em suas críticas argumentam, por exemplo, que veem isso como hipocrisia e sinalização de virtude performática, com CEOs e conselhos jogando para a arquibancada da opinião pública. Outros, contestam a própria premissa de investimentos em ESG e subestimam sua crescente importância para o desempenho financeiro e preservação do valor das empresas.

Quanto a preservação de valor, autores de um recente artigo no WEF mencionam crises corporativas, entre as quais,  Deepwater Horizon da BP no Golfo do México, manipulação de testes de emissões pela Volkswagen, violações de privacidade de dados do Facebook, violações de suborno da Odebrecht, Siemens e Airbus, como exemplos de situações em que conselhos e investidores foram pegos de surpresa por lapsos na administração de questões de ESG e capitalismo de stakeholders.

Em seu livro “Stakeholder Capitalism: A Global Economy that Works for Progress, People and Planet “,  Klaus  Schwab afirma:  “ a melhor maneira de entender e harmonizar os interesses divergentes de todas as partes interessadas é por meio de um compromisso compartilhado com políticas e decisões que fortalecem a prosperidade a longo prazo de uma empresa".

O fato de mais de uma centena de gigantes globais já terem se declarado dispostas a produzir resultados para todas as partes interessadas, e não apenas para os acionistas, indica os primeiros passos para a nova era do capitalismo sugerida por Klaus Schawab. Mais do que isso, demonstra que lideranças empresariais começam a aceitar que certos riscos e oportunidades ambientais, sociais e de governança podem ser financeiramente relevantes e com potencial para impactar positivamente o desempenho dos seus negócios.